
Autocontrole, Revolução e a Busca pela Liberdade
À primeira vista, Lênin e os filósofos estoicos parecem figuras antagônicas. No entanto, ambos defendiam uma disciplina férrea como caminho para a transformação — seja da sociedade, seja do indivíduo.
A Disciplina Revolucionária de Lênin
Em O Que Fazer? (1902), Lênin argumentava que o partido bolchevique precisava ser uma vanguarda disciplinada para liderar a classe operária. Suas regras incluíam:
- Centralismo democrático: Debate livre antes da decisão, obediência absoluta depois.
- Ascetismo militante: Revolucionários deviam abrir mão de interesses pessoais pela causa.
- Foco estratégico: Priorizar objetivos políticos, mesmo que exigissem sacrifícios (como a NEP pós-1921).
Apatheia Estoica
Para pensadores como Epicteto e Marco Aurélio, a apatheia (ausência de paixões perturbadoras) era a chave para a liberdade interior. Requeria:
- Autodomínio: Controlar desejos e medos para agir conforme a virtude.
- Indiferença ao externo: Aceitar o que não se pode mudar (como a morte ou a opinião alheia).
- Devoção ao logos: Alinhar-se a uma razão universal, quase como um “dever cósmico”.
Paralelos Surpreendentes
- Sacrifício pelo bem maior: Tanto o bolchevique quanto o estoico negam impulsos individuais em nome de um ideal.
- Racionalidade como arma: Lênin via a análise marxista como ciência; os estoicos usavam a lógica para superar ilusões.
- Resiliência na adversidade: A revolução exige paciência histórica, assim como a apatheia exige paciência ante o destino.
Diferenças Cruciais
- Objetivo: Lênin buscava mudar o mundo material; os estoicos, mudar a percepção do mundo.
- Coletivo vs. Individual: A disciplina leninista é um projeto de grupo; a estoica, uma jornada solitária.
- Meios: Lênin aceitava a violência revolucionária; os estoicos rejeitavam qualquer ação que perturbasse a harmonia interior.
Conclusão Iônica:
Ambas as disciplinas nascem da convicção de que a liberdade exige domínio sobre si — mas divergem radicalmente sobre o que fazer com essa liberdade conquistada.